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“Não podemos entender um hospital como uma fábrica. Qualquer erro custa a vida do paciente”, alerta Donizetti Louro, líder do grupo de trabalho da indústria 4.0 na Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo). O especialista entende os impactos da Internet das Coisas (IoT) na área da saúde, mas pede cautela na avaliação das soluções. Segundo ele, a IoT ainda é um conceito e traz questionamentos importantes nos cuidados com a saúde.

A conectividade entre equipamentos, sensores e sistemas é tida como uma forma de promover a humanização na saúde. Os especialistas defendem que, com automação de processos, digitalização das informações e apoio de sistemas de inteligência artificial, médicos e outros profissionais serão mais produtivos e terão mais tempo para se dedicar ao paciente. Para Louro, há limites claros na transferência deste pensamento industrial para o atendimento médico. “Ninguém sabe ainda como fazer isso com segurança total para o paciente.”

Segundo ele, os primeiros projetos de IoT medirão o desempenho de equipamentos e processos. Um exemplo está em avaliar os dados coletados dos sensores de um equipamento de mamografia para identificar se ele está sendo utilizado dentro dos protocolos corretos. Mas o atendimento crítico, como a conectividade dos dispositivos da sala de terapia intensiva (UTI) a sistemas capazes de monitorar o paciente ainda demanda desenvolvimento das soluções para garantir precisão dos dados. “Em um cenário crítico, tudo tem de ser integrado na mesma plataforma”, diz.

Na saúde, o tema da IoT, na opinião de Louro, extrapola o ponto da automação e da captura e análise de dados, uma vez que os sistemas nunca substituirão a ação e o acompanhamento dos médicos. “A questão fundamental é a gestão do risco. Usar a tecnologia sem ocasionar danos ou sofrimento ao doente.”

Renato Garcia Carvalho, CEO da Philips Brasil, lembra que, para tirar proveito da IoT, é preciso alcançar um alto nível de conectividade, o que demanda digitalização de informações e processos. Isso significa instalar sistemas de gestão e prontuários eletrônicos nas unidades de atendimento e partir para a integração total do sistema de saúde. “O uso intensivo de tecnologia vai propiciar benefícios como diagnósticos mais rápidos e precisos, maior segurança para o paciente e redução de filas”, diz.

O desafio está em pavimentar o caminho. Segundo estudo realizado pela Philips, com 19 países, o Brasil ainda investe pouco na adoção de tecnologia da informação na saúde, com índice abaixo da média quando comparado com as outras nações avaliadas na pesquisa. A análise levou em conta indicadores como acesso aos serviços, adoção e integração de tecnologias conectadas de saúde.

Carlos Reis, consultor do segmento de saúde da Logicalis, afirma que a IoT é um dos pilares da transformação digital na área da saúde, portanto é tema de discussão nos projetos de tecnologia. “As instituições ainda não conseguem reunir dados que chegam de diferentes fontes de informação”, diz. Agregar, analisar e entender os dados que chegam de equipamentos, sensores e até de dispositivos como relógios inteligentes é, segundo ele, a meta para utilizar a IoT como ferramenta de gestão da saúde.

O uso de dispositivos móveis vai permitir, lembra Fabricio Campolina, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), o monitoramento da saúde em tempo real e o maior engajamento dos pacientes nos cuidados com a saúde. Entre as possibilidades está a promoção da saúde por meio de campanhas para acompanhar atividades físicas e a conduta dos pacientes. A IoT pode ser utilizada no tratamento em casa, medindo sinais vitais e enviando informações para o médico. Além de permitir o envio de mensagens para lembrar o paciente de tomar a medicação. “Os planos de saúde podem premiar – com descontos – os pacientes que agem
para melhorar na saúde”, afirma.

Estudo realizado pelo Ericsson ConsumerLab sobre a expectativa dos consumidores em relação ao atendimento à saúde identificou uma tendência para o autocuidado. O uso de adesivos inteligentes (com sensores grudados ao corpo para monitorar sinais vitais) foi citado por 28% dos entrevistados como um recurso capaz de facilitar o tratamento e a gestão da própria saúde. Dispositivos móveis – como pulseiras e relógios inteligentes – foram considerados por 62% dos entrevistados como ferramentas que facilitam o controle da saúde. O levantamento entrevistou 4,5 mil usuários avançados de banda larga móvel na Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Reino Unido e Estados Unidos.

Fonte: Valor