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Hoje é a economia e a política que pautam a mídia, o dia a dia e as conversas dos brasileiros. Impossível ficar alheio aos efeitos da crise econômica no nosso cotidiano — desemprego, inflação, menor crescimento — e ao ritmo acelerado das mudanças na política. Também difícil não constatar que as turbulências que o Brasil enfrenta têm consequências que vão além das finanças e do ânimo da população. Os impactos mais perversos podem recair na qualidade da nossa saúde — hoje e no futuro.

Foi assim em países com atividade econômica similar à nossa. Eé o que já estamos vivenciando em consultórios e ambulatórios. Cresce o número de pacientes com sintomas de ansiedade (insônia, irritabilidade e cansaço), queixas comuns que, invariavelmente, estão relacionadas ou foram provocadas, mesmo que indiretamente, pelo menor ritmo da economia.

Há décadas pesquisadores em todo o mundo se dedicam a dimensionar como os momentos de aperto econômico causam impacto na saúde da população e atuam como fator de risco para várias enfermidades, como as doenças cardiovasculares.

Estudo recente mostra que nos EUA a redução do ritmo da economia, a partir de 2008, trouxe consequências mínimas à saúde dos americanos. O documento chega a revelar que a mortalidade é menor nos períodos de crise. Por incrível que possa parecer, a queda de 1% na taxa de desemprego chega a coincidir com diminuições de até 0,5% do índice de mortalidade dos americanos.

Mas este comportamento antagônico parece estar restrito às economias mais avançadas. Em outros países, como Argentina, Grécia e Rússia, os impactos negativos na saúde foram expressivos. Podemos esperar desempenho similar no Brasil.

Na Argentina, o risco de ataque cardíaco aumentou 5,4% entre os anos de 1998 e 2002. Foi nesse período que o país vizinho enfrentou um dos piores momentos econômicos da sua história — fim da paridade da moeda com o dólar e corralito. Na Grécia, médicos detectaram aumento no número de internações por ataques cardíacos entre 2008 e 2012, em estudo apresentado no Heart Failure Congress-2014. Os gregos foram um dos povos europeus mais afetados pela crise de 2008.

No Brasil, dois indicadores nos servem de alerta. A IMS Health, consultoria que audita o mercado farmacêutico, identificou um acréscimo de 12,6% nas vendas de antidepressivos e de estabilizantes de humor entre março de 2015 e fevereiro deste ano.

Ensina a história que economia e saúde sempre tiveram ligação muito próxima. A relação ocorre não só pela insuficiência de recursos destinados à saúde pública e pelos impactos de epidemias no ritmo das atividades do país, mas também pela necessidade de uma população saudável para sustentar qualquer política de desenvolvimento. Então, rever hábitos alimentares, abandonar o sedentarismo e adotar a prevenção como regra são, sim, medidas de primeira hora para qualquer país voltar a crescer.

Fonte: O Globo