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Num cenário de desemprego crescente, cerca de 3 milhões de pessoas devem perder o convênio médico até o fim deste ano, considerando o período de 2015 e 2016, segundo estimativas da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

Deste total, 1,6 milhão de pessoas ficaram sem o plano de saúde entre janeiro de 2015 e março deste ano, principalmente por causa da redução do emprego formal. “Essa estimativa de 3 milhões é porque há um ‘delay’ (atraso) entre a demissão do funcionário e o cancelamento do contrato do plano de saúde. Os convênios médicos podem ser mantidos de seis meses a dois anos após a demissão, nos casos em que o funcionário pagava uma parcela do benefício”, disse Pedro Ramos, diretor da Abramge. Os planos médicos empresariais representam cerca de 65% do mercado.

Uma comparação cruzando os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que esse descompasso já aconteceu no primeiro trimestre. Entre janeiro e março deste ano, 323 mil pessoas perderam o emprego, mas a queda de usuários de convênios médicos foi de 617 mil, ou seja, praticamente o dobro. Em 2015, o movimento ainda era contrário: 1,5 milhão de postos formais de trabalho foram cortados contra 953,2 mil contratos de planos de saúde cancelados.

Outro fator que explica uma queda mais acentuada no números de pessoas perdendo o plano de saúde é que muitos desses usuários tinham convênios médicos corporativos com dependentes. O volume de cancelamentos, estimado em 617 mil entre janeiro e março de 2016, pode ser ainda maior, uma vez que a ANS atualiza os dados trimestralmente. Isso aconteceu com o levantamento do ano passado, que mostrava uma redução de 766 mil usuários, mas foi atualizado neste mês para 953,2 mil.

O desempenho do ano passado foi o pior registrado pelo mercado de planos de saúde desde 2000, quando a ANS começou a levantar os dados. Em 2015, os custos médicos das operadoras e seguradoras de saúde aumentaram 10,85% e o faturamento cresceu 11,2% para R$ 142,3 bilhões. A receita subiu em decorrência dos reajustes de preço dos convênios médicos, que ficaram em torno de 16,5% na modalidade empresarial e 13,5% nos planos individuais.

Neste ano, as operadoras e seguradoras de saúde estão pleiteando um aumento médio de 18% a 20% nos convênios médicos empresariais, segundo levantamento da AON, consultoria especializada em saúde. Nos planos corporativos, vale a livre negociação. O percentual de reajuste para cada empresa pode ser maior ou menor dependendo da sinistralidade do ano anterior. Quando a taxa de sinistralidade fica acima de 75% – ou seja, quando os usuários gastam mais do que esse percentual da receita – o reajuste pode ultrapassar a média pedida pelas operadoras. A regra vale na mesma proporção quando o gasto é inferior aos 75% – esse número é considerado o ponto de equilíbrio.

Num cenário de retração econômica, as negociações dos patamares de reajustes devem gerar longos embates entre operadoras de saúde e empresas. As companhias estão cortando custos e tendem a resistir aos aumentos. Além disso, os gastos das empresas com o segmento já estão subindo, já que funcionários demitidos têm entrado na Justiça para manter o benefício. “Neste ano, tivemos um aumento de cerca de 20% nos pedidos de ajuizamento de ações, principalmente, nas grades cidades como São Paulo em que praticamente não há oferta de planos individuais”, diz Rodrigo Araújo, advogado especializado em planos de saúde e sócio do escritório Araújo, Conforti e Jonhsson.

Um dos caminhos adotados pelas companhias para não absorver um reajuste tão elevado nos convênios médicos é a co-participação. Pelo sistema, o funcionário paga uma parte do valor de procedimentos mais simples, como consultas e exames. Essa é uma ferramenta adotada para inibir o uso demasiado do plano de saúde. Nos casos em que já se adota a co-participação, o caminho tem sido o aumento dessa fatia de contribuição.

Outra opção que deve ganhar força entre as empresas é a troca de planos, para operadoras que ofereçam contratos mais em conta. Não à toa, no ano passado, entre as poucas operadoras que cresceram estão a NotreDame Intermédica e Hapvida, que atendem um público intermediário.

Fonte: Valor Econômico