Carro, celular, eletrodomésticos, viagens. Tudo isso fica para depois quando o assunto é bem-estar. Levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) revela que os planos de saúde ocupam a terceira posi- ção na lista de desejos dos brasileiros, perdendo apenas para educação e casa própria. A aspiração explica o avanço constante do setor. Em busca de atendimento de qualidade, o número de beneficiários chegou a 72 milhões em setembro de 2015, entre assistência médica e exclusivamente odontológica, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Significa que 25,9% dos brasileiros optaram por contratar uma das 843 operadoras médico-hospitalares ativas no país. Nesse universo, são realizados anualmente mais de 1 bilhão de procedimentos, de acordo com ANS, entre consultas médicas, internações, exames e terapias. Responsável por uma despesa total de R$ 139,3 bilhões nos últimos 12 meses, terminados em junho de 2015, o segmento cresceu a uma taxa média anual de 3,7% nos últimos 10 anos, segundo levantamento da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg).
Essa procura pelos planos privados trouxe, em contrapartida, uma significativa assistência médica e odontológica aos titulares e dependentes. Em 2014, as operadoras de saúde contabilizaram R$114,4 bilhões e avançaram 15,3%, ainda na mesma base de comparação. A análise é da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), com base nos dados da ANS. Os planos odontológicos tiveram desempenho relevante, com alta de 15,3% ao ano entre setembro de 2005 e setembro de 2015.
“É uma taxa altíssima, ainda mais se considerarmos que a taxa de crescimento demográfico do país foi de 0,8% ao ano, na última década”, afirma Marcio Coriolano, presidente da FenaSaúde. Em relação a 2015, a queda na renda das famílias e o crescente índice de desemprego têm reflexos inevitáveis no crescimento do setor. A consequência disso é que, em setembro deste ano, pela primeira vez na história, o número de beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares diminuiu em relação ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com a FenaSaúde.
Com 164,4 mil clientes a menos, o setor recuou 0,3%. No terceiro trimestre de 2015, a perda foi de 236,2 mil beneficiários, resultado 0,5% pior que o do mesmo período de 2014. Presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano ressalta pontos importantes na conjuntura. “O que temos observado recentemente é uma redução pequena no número de beneficiários de planos médico-hospitalares. É possível atribuir essa retração a dois fatores principais: o aumento das demissões em setores mais afetados pela crise e o menor dinamismo das grandes empresas, que sofreram bem mais com a desaceleração da economia do que as pequenas e médias companhias.”
Dessas duas variáveis, na avaliação do presidente da FenaSaúde, o que preocupa mais são os cortes de vagas no mercado de trabalho. “É importante lembrar que praticamente todos os setores econômicos foram afetados, mas, sobretudo, os que mais sofreram foram aqueles intensivos em mão de obra. É o caso do setor de construção civil. O mesmo aconteceu com as empresas de óleo e gás, que, assim como o setor financeiro, também estão demitindo. Tudo isso impacta no número de beneficiários dos planos médico-hospitalares”, observa Coriolano.
O segundo motivo da queda no número de beneficiários, atribuído ao menor dinamismo das grandes empresas, não preocupa o setor de saúde suplementar. Isto porque as empresas associadas continuam a registrar crescimento no número de adesões de planos corporativos por pequenas e médias empresas, que começaram a ver as vantagens em contratar planos médico-hospitalares para funcionários. “É um efeito que já vimos lá atrás nas grandes empresas, de oferecer benefícios como plano de saúde e odontológico para reter funcionários. Com a crise, as pequenas também passaram a oferecer esse tipo de benefício”, ressalta o presidente da FenaSaúde.
Cai o número de beneficiários
Levantamento da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), com base em dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), aponta os impactos da crise no setor. No acumulado de 12 meses seguidos e encerrados em setembro deste ano, o número de beneficiários de planos médicos caiu 0,3%, totalizando 50,3 milhões de vidas.
No terceiro trimestre, a queda aumentou para 0,5%, perda de 236 mil beneficiários. Já os planos exclusivamente odontológicos seguiram tendência de crescimento, com aumento de 5,0%, alcan- çando 21,9 milhões de beneficiá- rios em todo o país. A desaceleração registrada nos planos médicos pode ser atribuída ao momento econômico do país, em especial à retração do mercado de trabalho e do rendimento real dos brasileiros, resultado de ajustes feitos por alguns segmentos empresariais.
A inclusão socioeconômica nos anos recentes — com incremento de setores produtivos — esteve entre os principais impulsionadores da Saúde Suplementar. A tendência de retração dos últimos meses e que persiste neste quarto trimestre dá uma dimensão do tamanho da perda de beneficiá- rios dos planos de saúde. Apenas no terceiro trimestre, entre julho e setembro deste ano, o segmento de planos médicos hospitalares perdeu 236 mil beneficiários, queda de 0,5% em relação ao trimestre anterior.
Dados anualizados mostram a desaceleração do setor. Há um ano, em setembro de 2014, o setor apresentou taxa de crescimento de 2,75% em relação ao ano imediata- mente anterior. Essa taxa veio se reduzindo a cada trimestre e foi negativa em setembro deste ano (0,3%). Trata-se da maior redução, em termos anuais, ao longo de toda a série histórica disponível. A situação se agravou no último trimestre. Todas as modalidades de operadoras do segmento médico-hospitalar (Medicina de Grupo, Cooperativa Médica, Seguradora de Saúde e Autogestão), com exceção da filantropia, perderam beneficiários no período.
Fonte: JORNAL DO COMMERCIO