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“A saúde é direito de todos e dever do Estado”, segundo a Constituição da República (artigo 196). Mas a saúde é também de responsabilidade de um dos braços mais importantes no atendimento à população: o sistema hospitalar brasileiro, setor onerado e um dos mais criticados do país, sempre às voltas com pacientes insatisfeitos, altos custos de produção e falta de recursos para investimentos em necessárias melhorias, ocasionados por baixas remunerações recebidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e grandes operadoras de planos de saúde.

O Brasil conta, atualmente, com quase 7 mil hospitais cadastrados no Ministério da Saúde, sendo 30% públicos e 70% privados, e com mais de 500 mil leitos hospitalares. Com raras e honrosas exceções, os hospitais particulares brasileiros caminham a passos largos para uma situação econômica complicada. Apesar de representar hoje 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e de empregar diretamente 3,5 milhões de pessoas, a maioria dos hospitais se encontra em regime pré-falimentar.

Além da crise econômica que afeta inúmeros setores produtivos e de serviços, o setor hospitalar enfrenta um problema ainda mais sério: a epidemia de dengue que afeta o país, principalmente em Minas Gerais, onde se concentra o maior número de casos da Região Sudeste. Segundo balanço de monitoramento da Secretaria de Estado da Saúde divulgado em 15 de abril, Minas soma neste ano quase 319 mil casos prováveis, com inúmeros óbitos confirmados e a confirmar. A revelação alarma se comparada com estatísticas anuais realizadas em anos anteriores – e estamos falando somente da dengue, sem mencionar a febre chickungunya e o zika vírus.

Apesar das campanhas de conscientização da União e do estado no combate ao mosquito Aedes aegypti e da criação de postos públicos específicos para apoio aos pacientes, a dengue afeta também os postos de urgência e emergência dos hospitais particulares, obrigados a atender muito além de sua capacidade máxima, com pessoas sendo postas em macas nos corredores, o que era impensável até então em ambientes desses hospitais. Com a chegada do inverno, porém, acredita-se que o quadro passe por uma mudança substancial. Menos chuva, menor quantidade de água parada. No entanto, Minas e o Brasil não podem ficar à mercê da sazonalidade, necessitando urgentemente de políticas públicas que combatam na raiz os problemas da ineficiência sanitária. Hoje os hospitais administram o caos.

Como ocorreu em todo o território de São Paulo, com 91 mortes por H1N1 registradas nos primeiros três meses do ano, a Central dos Hospitais de Minas Gerais preocupa-se com a situação no estado, embora não haja surto. Com a chegada do inverno, o cenário deve piorar consideravelmente em regiões como a sul-mineira – o excesso de casos acaba proporcionando uma corrida da população aos laboratórios particulares.

As clínicas e hospitais de Minas Gerais sentem há muitos anos os reflexos da crise e se preparam para enfrentar o mercado cada dia mais competitivo, principalmente em momentos de acúmulo de problemas como os de agora. Os empresários da área hospitalar estão conscientes da necessidade de sair da zona de conforto e partir para passos mais ousados, tais como a criação do centro de serviços compartilhados (CSC) entre os hospitais e até mesmo a participação de capital estrangeiro (fundos de investimentos) nos hospitais, artifício hoje permitido por lei.

Os investimentos em serviços de qualidade prestados pelos hospitais, com programas certificados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), são necessários e prementes. Entre eles, importante citar a aplicação de recursos em alta tecnologia, em equipamentos – que a cada dia se tornam obsoletos – de última geração; em segurança hospitalar; em estudos aprofundados para se exterminar a infecção em hospitais (um problema crucial ainda a ser completamente solucionado); em mão de obra qualificada e em capacitação de pessoal; no estudo de um eficiente planejamento estratégico; e na implantação de uma gestão moderna e informatizada. Além disso, os hospitais mineiros são parceiros das instituições públicas no cumprimento das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tudo isso para tentar contornar o caos instalado na saúde, que tem solução.

Fonte: O Estado de Minas