Um paciente que estava entre as 52 pessoas que apresentaram sintomas de uma doença ainda não identificada, marcada por fortes dores musculares e por deixar a urina preta, faleceu no último sábado, em Salvador. A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), que confirmou o óbito, investiga se a morte está relacionada com a doença misteriosa, que vem sendo classificada por enquanto como “mialgia [dor muscular] aguda a esclarecer”. Outro homem, que também apresentou os sintomas, já havia falecido no último dia 31.
A maior parte dos casos suspeitos da doença aconteceu em Salvador (50), mas houve manifestações de sintomas também nas cidades de Vera Cruz (1) e Lauro de Freitas (1), próximas à capital baiana. A Sesab está monitorando e analisando os casos suspeitos — entre os 44 já investigados, 43 (97%) apresentaram dores musculares intensas de início súbito; 21 (47%) urina escura; 19 (43%) dor ao leve toque no corpo; e 16 (36%) dores nas articulações e sudorese.
A pasta está trabalhando com quatro hipóteses para a contaminação: origem bacteriana, viral, por metais pesados ou toxina. Mas em entrevista ao GLOBO, o pesquisador Gúbio Soares, do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia, afirmou que as análises que vêm sendo feitas desde dezembro têm indicado como causa os vírus dos gêneros Enterovírus ou Parechovírus. Soares aponta que, apesar de não serem fatais, os microorganismos podem levar à insuficiência renal, por isso o acompanhamento médico é fundamental.
A manifestação dos sintomas se assemelha a pequenos surtos ocorridos no exterior, como no Japão, entre 2008 e 2014, na França, entre 2008 e 2010, e na Dinamarca, em 2014.
— Identificamos a família do vírus, e estamos sequenciando o material genético. Não é um vírus fatal, mas pode levar à insuficiência renal. É muito importante procurar o médico em caso de sintomas. A pessoa não deve, por exemplo, tomar remédios anti-inflamatórios de jeito nenhum — explica Soares.
A Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, está sete amostras de fezes, e o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, está investigando, em peixes enviados in natura, a presença de metais pesados — uma vez que as primeiras suspeitas foram a de que peixes consumidos na região estariam causando a intoxicação. Duas amostras de peixe consumidas por pacientes serão também enviadas para análise no estado do Alabama, nos Estados Unidos.
Fonte: O Globo