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É comum ouvir os executivos dizerem que trabalham demais. Mesmo assim, um levantamento da consultoria Robert Half com mil diretores de recursos humanos de oito países – cem deles brasileiros -, revelou que as horas extras não têm sido suficientes para que eles concluam suas tarefas. A pesquisa perguntou aos gestores qual a porcentagem de tarefas que os funcionários da empresa conseguem finalizar em um dia de trabalho. No Brasil, 60% dos empregados concluem entre 41% e 80% das atribuições diárias e apenas 13% terminam ou chegam perto de terminá-las – média parecida com a global.

Tanto aqui como lá fora, os altos percentuais de tarefas inacabadas são creditados em primeiro lugar justamente à carga de trabalho excessiva. Em seguida aparece a falta de profissionais permanentes. O que muda no cenário nacional em relação ao internacional é a terceira razão elencada para explicar lacunas na produtividade. Se globalmente a falta de profissionais temporários é justificativa para 16% do total de diretores de RH entrevistados, os gestores do Brasil apontam para deficiências de direção e de comunicação (20%). Também aqui foi constatada a maior preocupação com a interferência das redes sociais no desempenho e recursos de tecnologia inadequados.

Diante dos números e dos argumentos, surge a questão: os profissionais ficam muito tempo no escritório porque, de fato, têm muito a fazer, ou por serem ineficientes? De acordo com Fernando Mantovani, diretor de operações da Robert Half no Brasil, existem empresas em que a carga de trabalho é efetivamente mais puxada. Pesa também a cultura corporativa adotada pelo alto escalão, acrescenta João Márcio Souza, diretor-executivo da Talenses, empresa de recrutamento de executivos. Trabalhar muitas horas seria reflexo dos valores da liderança e do estilo de gestão – e quem não se enquadra na rotina do escritório pode acabar malvisto.

Para determinadas funções, diz Mantovani, o volume de atribuições é excessivo por natureza e inerente ao padrão do cargo, como no caso de quem atua em mesas de operação de bancos. O diretor da Robert Half ressalta também que a ideia de que “é bonito não ter tempo”, cultivada por diversos profissionais, pode enviesar a percepção de carga de trabalho acentuada.

Mesmo o perfil cultural dos brasileiros influencia o andamento e a conclusão do trabalho e a produtividade. Um exemplo é a cordialidade do nosso povo, que é menos incisivo ao cobrar um colega quando depende que este cumpra sua parte. “Nos Estados Unidos e em outros países da Europa, as relações são mais diretas. Não interessa se gosto de você ou não, estamos aqui para trabalhar e não necessariamente sermos amigos.”

Ao analisar a questão da produtividade versus quantidade excessiva de trabalho, Souza, da Talenses, inclui na discussão até mesmo o clima – não o organizacional, mas o meteorológico. “No frio, as pessoas tendem a ser mais produtivas”, diz. Climatologia à parte, render mais ou menos no trabalho depende de muitas outras variáveis – entre elas, o tamanho e a complexidade da corporação, sua área de atuação e o ciclo econômico. “Vivemos em tempos de incertezas. Às vezes, o executivo se sente ameaçado e trabalha muito, sem necessidade, para mostrar dedicação.”

arte16carr-101-produtividad-d3Muitas vezes, porém, o que causa a sensação de sobrecarga, de acordo com o diretor da Talenses, é uma alocação inadequada do tempo. Sobretudo em multinacionais de médio e grande porte, o executivo, especialmente o CEO, é “solicitado a todo momento, para tudo o que se pode imaginar”. Essas demandas incluem, por exemplo, relatórios para a matriz, em diferentes formatos, por ela querer um nível maior de controle da operação.

Obter ganhos de produtividade também foi o que motivou a iProspect, especializada em marketing digital, a criar em janeiro uma ferramenta de inovação tecnológica para a produção de relatórios para os clientes. De acordo com o gerente de SEO (Search Engine Optimization) da empresa, Gustavo Macedo, esses documentos eram muito técnicos e não atendiam às necessidades do consumidor final. “Hoje, eles são produzidos em muito menos tempo, a leitura é mais fácil, rápida e têm menor número de erros”, enfatiza.

Mas não basta atribuir a responsabilidade à empresa nessas ocasiões – o profissional precisa impor barreiras e se posicionar. “No mundo globalizado, com a alta velocidade dos negócios, ele fica assoberbado de assuntos para cuidar. Falta foco e é preciso saber definir prioridades”, diz.

Algumas empresas como a Linx, de softwares de gestão para varejo, buscam aliviar a jornada de seus empregados e distribuir melhor suas horas de trabalho. “Sempre projetamos um crescimento da estrutura com o maior nível de eficiência possível e ganhos de produtividade”, diz seu diretor de marketing, Flávio Menezes. Nesse contexto, foi criada uma campanha interna chamada “Coeficiente X – Multiplicando a Produtividade”, com o intuito de engajar os funcionários em projetos de aumento de eficiência, redução de custos e satisfação dos clientes.

O objetivo, ressalta Menezes, é fazer as pessoas refletirem sobre o que fazem e como podem melhorar. A campanha começou no primeiro semestre de 2013 e envolveu todos os cerca de dois mil funcionários em duas categorias de ideias: as de curto prazo, que deveriam evidenciar resultados até o final do ano passado, e as de médio prazo, a se provarem funcionais até o fim deste ano. As propostas, elaboradas em times de até três empregados, foram julgadas com base em 30 indicadores de negócio levantados em todas as áreas da empresa.

Dos 99 projetos inscritos, 44 foram aprovados. Os vencedores de cada categoria foram premiados com pacotes de viagem. O de curto prazo criou um roteiro de automação de testes em um dos softwares da Linx. O sistema possibilita mais velocidade e precisão no procedimento, reduzindo erros. “Além disso, permitiu que analistas de software fossem deslocados para outras atividades”, diz Menezes. A sugestão de médio prazo ganhadora propôs a padronização de processos de importação de dados de sistemas dos clientes para o da Linx.

Desse modo, os funcionários podem se concentrar na análise dos dados, o que também serve como fator de motivação para a equipe. “Temos muito mais tempo para o raciocínio estratégico e tático. Aumentamos o valor agregado ao produto”, diz Macedo.
Fonte: Valor Econômico