Em uma rua secundária do distrito de SoMa, em San Francisco, dominado por startups, uma empresa que vem crescendo rapidamente está ocupada estudando como milhões de trabalhadores se comportam todos os dias. Seus computadores sabem em tempo real por que um funcionário foi contratado, o quanto ele é produtivo e pode até mesmo segui-lo enquanto ele se dirige para um novo emprego.
A Evolv é uma das líderes do embrionário movimento “Quantified Workplace”, em que companhias de análise de dados (big data) estão sendo criadas para avaliar como trabalhamos. “Toda semana descobrimos mais coisas para monitorar”, diz Max Simkoff, cofundador e diretor-presidente da Evolv, que alega poder aumentar ao menos 5% da produtividade em dois terços das ocupações.
Mais da metade dos departamentos de recursos humanos ao redor do mundo informam um aumento no uso de análise de dados em comparação há três anos, segundo um estudo recente da Economist Intelligence Unit. Mas muitos ainda não compreendem como as informações que eles podem classificar como privadas estão sendo analisadas por seus gestores.
De sua parte, a Evolv analisa mais de meio bilhão de “pontos de dados de funcionários” de 13 países, tentando identificar padrões em empresas e setores. Isso abrange desde a frequência com que os funcionários interagem com seus supervisores até o tempo que um trabalhador leva para chegar de casa ao escritório.
Os clientes da Evolv os usam para ajudar na tomada de decisões de contratação, além de avaliação dos desempenhos de funcionários ao longo de suas carreiras. Até agora a companhia se concentrou em setores que lidam diretamente com os clientes, como o comércio varejista e os call centers. Um dos clientes é a Kelly, uma agência de emprego, que afirma ter registrado uma melhora geral de 7% na eficiência dos funcionários com a incorporação das percepções da Evolv em sua política de contratações.
A Novo1, uma empresa americana que gerencia centros de atendimento a clientes e possui mais de dois mil funcionários, identificou as características de seus mais bem-sucedidos operadores de call center e contratou mais pessoas como eles. Isso reduz o tempo de duração das entrevistas de emprego de uma hora para 12 minutos, o tempo do atendimento ao consumidor em um minuto, além de as demissões por desgaste em 39%.
Outra pioneira é a Sociometric Solutions, que coloca sensores em crachás para obter informações sobre a dinâmica social no trabalho. O crachá monitora como os funcionários se movimentam no local de trabalho, com quem eles conversam e qual o tom de voz. Um dos clientes, o Bank of America, descobriu que seus colaboradores mais produtivos são aqueles que têm permissão para dar uma pausa no trabalho juntos, quando eles desabafam e compartilham dicas sobre como lidar com clientes frustrados.
Diante disso, o banco optou pelas pausas coletivas e registrou uma melhora de 23% no desempenho, enquanto o estresse detectado na voz dos funcionários diminuiu 19%. Ben Waber, cofundador e diretor-presidente da Sociometric Solutions, acredita que os crachás podem ser usados muito além das áreas de vendas e serviços. Ele vê grandes oportunidades no setor farmacêutico, por exemplo, onde é difícil medir a produtividade, já que novos medicamentos podem surgir apenas uma vez em cada década.
Outra companhia, a Steelcase, que coloca censores em móveis de escritório e prédios para saber como os trabalhadores interagem, acredita que a verdadeira utilidade de monitorar o local de trabalho está longe dos call centers, mas em departamentos criativos e até mesmo nos conselhos de administração, onde tempo é particularmente precioso.
David Lanthrop, seu diretor de pesquisas e estratégia, diz que os sensores estão hoje tão baratos que podem ser colocados “em praticamente qualquer lugar”, e argumenta que os funcionários podem se beneficiar disso monitorando seus próprios desempenhos. Melhorar a produtividade dos executivos da cúpula “tem um efeito desproporcional sobre a companhia”, acrescenta. Os defensores afirmam que quantificar o local de trabalho é uma coisa especialmente vantajosa em áreas onde sempre há choques de culturas, como equipes multiculturais e aquisições.
Mas nem todos estão convencidos de que o uso da tecnologia no monitoramento de funcionários oferece uma melhora inequívoca de produtividade. Teresa Amabile, professora e diretora de pesquisas da Harvard Business School, diz que isso poderá ser “muito positivo” ou “muito negativo”, dependendo da cultura existente no local de trabalho.
O monitoramento pode funcionar se as equipes, departamentos ou escritórios inteiros usarem o software ou dispositivos que tenham o que ela chama de “alto grau de segurança psicológica”. Se as pessoas sentirem que poderão experimentar, potencialmente falhar e aprender com essas lições, então elas poderão ser motivadas, pois terão um entendimento melhor do como passam seus dias. No entanto, ela alerta que a tecnologia ainda está em seus dias iniciais e pode não ser muito confiável. “Existe o perigo de enxergar a tecnologia como uma solução mágica para tudo”, diz.
Lew Maltby, presidente do US National Workrights Institute, diz que o monitoramento eletrônico poderá ser “uma ferramenta muito valiosa” para os patrões, ao fornecer evidências de assédio sexual ou avaliar a produtividade em funções específicas. Mas ele diz que a maioria dos funcionários “não tem a menor ideia” em que grau seus e-mails já são monitorados, ou sobre as informações que seus empregadores podem acessar a partir de seus computadores de trabalho ou smartphones.
Os funcionários podem não ter muito o que fazer para conter a ampliação dessa vigilância corporativa. Maltby diz que houve nos Estados Unidos uma série de ações legais há alguns anos envolvendo o monitoramento de computadores de trabalho – e os empregados perderam todas elas.
Mesmo aqueles que estão envolvidos nessa indústria crescente acreditam que é preciso haver mais discussões sobre quando e como os dados poderão ser usados. O professor Andrew Knight, da Universidade de Washington em St. Louis, trabalha com dados da Evolv e da Sociometric Solutions para estudar o comportamento no local de trabalho. Ele afirma, contudo, que o monitoramento constante é “uma imagem assustadora para o futuro, que poderá eliminar parte da autenticidade das relações nos locais de trabalho”, diz.
Lathrop, da Steelcase, pode estar ocupado pensando em novos lugares para esconder seus sensores, mas está ciente do potencial impacto disso sobre os funcionários. Na esteira do caso Edward Snowden, ele diz que as pessoas podem estar temporariamente assustadas com o que julgam como uma invasão de sua privacidade, mas acredita que isso vai mudar. “É fácil pintar um cenário aterrorizante a esse respeito. Do mesmo modo, é possível desenvolver algo bastante positivo nesse sentido, que possa beneficiar as pessoas diretamente”, afirma. (Tradução de Mario Zamarian)
Fonte: Por Hannah Kuchler | Do Financial Times / Valor Econômico