“Era um dia bastante comum no escritório”, lembra Michael Gibson. “Mas, na hora do almoço, recebi um telefonema de um cliente dizendo que meu colega não havia aparecido em um encontro que eles haviam marcado”. Mais tarde, uma amiga ligou dizendo estar preocupada e os demais colegas começaram também a se preocupar. “Então, recebemos uma ligação da polícia dizendo que um corpo havia sido encontrado. A pessoa havia pulado de um prédio”, diz.
Hoje atuando como diretor da Fat Media, uma empresa de marketing digital, ele explica que, embora isso tenha acontecido anos atrás, quando estava em outra companhia, é algo em que pensa frequentemente. A morte de um colega é um tabu no local de trabalho. As empresas não gostam de falar sobre isso – quando procuradas para comentar sobre a morte de funcionários para esta reportagem, dez companhias educadamente se recusaram a falar, embora em muitos casos as mortes tenham chegado às manchetes dos jornais.
É claro que pessoas empregadas morrem, incluindo executivos. Nos últimos anos, Steve Jobs, um dos fundadores da Apple, morreu de câncer; Steve Appleton, diretor-presidente da Micron Technology, morreu em um desastre de avião, e o empresário Jimi Heselden, que controlava a Segway, morreu depois de cair com seu Segway PT de um penhasco.
Qual deveria ser a reação das empresas? “As organizações têm um papel importante nesses casos”, diz Kirsty Minford, consultora de recursos humanos e “grief counsellor” [consultora de luto, na tradução literal]. “As pessoas não deixam o luto do lado de fora ao entrar na companhia”. Com a morte de um companheiro de trabalho, o apoio dos demais colegas pode ser muito importante. “As pessoas sempre dizem o trabalho me ajudou a seguir em frente, e a rotina, a comunidade e o apoio dos mais próximos podem ser de grande ajuda”, afirma.
As relações de trabalho podem não ser especialmente amigáveis ou pessoais, mas mesmo assim a vida no escritório pode produzir ligações profundas. “Uma relação é construída quando você trabalha com alguém, mesmo que vocês não sejam grandes amigos. Assim, uma morte no local de trabalho sempre é significativa”, afirma Russell Friedman, diretor do Grief Recovery Institute, que ajuda indivíduos e empresas a lidarem com a morte. “A questão envolvida no luto é a mudança – e obviamente o grau de luto vai variar. As empresas precisam dar às pessoas espaço para o luto, sem se transformarem em assistentes sociais. É importante que conversem e demonstrem seus sentimentos.”
Kevin Friery, diretor clínico da consultoria Right Management, diz que “os maiores empregadores deveriam ter uma política em relação ao assunto, uma vez que isso vai acontecer em algum momento”. Os passos que uma companhia pode considerar incluem uma folga para as pessoas mais afetadas, alguém que estabeleça uma ligação com a família (e às vezes com a polícia) e até uma cerimônia fúnebre. É essencial também fazer um comunicado curto e digno o quanto antes, especialmente porque rumores falsos podem começar a circular. Se a morte for inesperada, reconheça que as pessoas ficarão chocadas e terão de falar a respeito.
Além disso, é importante ser misericordioso, mas ao mesmo tempo pragmático. Esforços para chegar a um equilíbrio entre a compaixão e a necessidade de continuar trabalhando serão apreciados. Um certo grau de administração também pode ser envolvido no processo. Por exemplo, a mensagem padrão que a pessoa deixava na secretária eletrônica do telefone não deve ser ouvida pelas pessoas que ligarem durante dias, e até mesmo semanas, após o falecimento. “É preciso explicar o que aconteceu aos clientes e contatos da pessoa, o que pode ser um processo bastante demorado.”
As empresas deveriam averiguar quem é afetado, afirma Friery. “Trata-se do grupo imediato de trabalho? E as pessoas com quem a pessoa tomava café e almoçava? Trabalhamos com uma empresa em que um funcionário na casa dos 50 anos morreu – e ele trabalhava naquela empresa desde os 17 anos. O impacto foi enorme”. Mas nem sempre é óbvio quem será afetado com o acontecimento. É preciso estar preparado para descobrir amigos próximos inesperados ou mesmo casos amorosos secretos.
O luto afeta as pessoas de maneiras diferentes. Duas pessoas podem ter uma relação parecida com um colega, mas reagir de maneiras muito diferentes quando esse colega morre. “Mesmo tendo pouco contato com uma pessoa, você ainda pode ficar abalado por sua morte”, explica Friedman. “É normal sentir que perdeu a chance de dizer a ela algo que gostaria de ter dito. Você poderá se ver preso a frases e sentimentos não ditos ou poderá pensar: Eu realmente nunca o conheci direito.”
No caso da morte de um executivo-chefe carismático e conhecido, o staff pode ser afetado da mesma maneira que pela morte de uma celebridade. Mas Russell diz que mesmo a morte de um funcionário de baixo escalão que você não conhece pode ter um impacto. “A gente tem um tipo de sentimento de equipe em relação às pessoas de nossa empresa.”
A natureza da morte vai afetar as reações. “O suicídio é diferente porque há culpa e vergonha. Seu efeito é enorme, sendo ainda maior quando a pessoa deixa uma carta de despedida dizendo que fez aquilo por causa do trabalho”, diz Friery. Os detalhes de uma morte podem ser difíceis de se lidar. “Certa vez, um funcionário, bêbado, caiu em um canal e se afogou”, lembra. “Ou você pode se deparar com o caso de alguém que morreu em um acidente de carro porque estava dirigindo bêbado. Isso faz as pessoas questionarem seus próprios estilos de vida.”
Finalmente, há o desafio de o que fazer quando as pessoas simplesmente desaparecem. “Essa é uma situação muito estranha. Você chega ao ponto em que tem de perguntar o que fazer com a mesa de trabalho da pessoa. Seria insensível limpar a mesa e esvaziar as gavetas?”
É claro que, por trás dessas preocupações, há um elemento de interesse próprio nas companhias. “Se as pessoas não puderem se enlutar, sua concentração vai cair, elas poderão ter crises de choro repentinas e ficar deprimidas”, diz Friery. “Normalmente, não se oferece muito aconselhamento, mas você trata as pessoas de maneira compassiva, ficando atento para detectar aquelas que estão realmente tendo problemas para superar o trauma.”
Kirsty Minford alerta que as organizações devem ficar atentas para não prometer muita coisa, especialmente quando estiverem lidando com a família. “Seja cuidadoso com o que você fala no estágio inicial do choque”, ressalta. “É da natureza humana comprometer-se demais, mas é preciso pensar naquilo que pode ou não cumprir. Não prometa coisas demais, para depois decepcionar as pessoas”. A longo prazo, uma empresa pode honrar a memória da pessoa criando um prêmio com seu nome. “Se estiver em linha com os desejos da família, esse tipo de coisa é positiva”, diz Minford.
É importante reconhecer que o staff poderá sentir bastante uma morte mesmo muitos anos depois. “Ainda penso no que aconteceu. É estranho que, mesmo agora, quando esse tipo de questão é levantada, você volta no tempo para aquele momento”, diz Gibson. Como regra geral, as empresas deveriam ser mais compassivas. “Se você fizer isso, as pessoas vão se lembrar”, diz Friery. “As empresas têm medo do assunto. Mas não deveriam, pois é algo que afeta a todos nós. O luto é universal”, afirma Russell. (Tradução de Mario Zamarian)
Fonte: Rhymer Rigby/Financial Times