Sindhosba

Trabalho há seis anos em uma empresa de TI e, embora goste do setor e pretenda continuar nele, ando bastante desmotivado. Além de não enxergar muitas perspectivas internamente, estou cansado da companhia de maneira geral: das pessoas (chefes e colegas), processos, clientes e da rotina. Esse sentimento começou há cerca de oito meses e, desde então, tenho pensado que uma boa alternativa talvez seja procurar oportunidades em outras empresas, com novos desafios e culturas diferentes. Estou disposto a fazer isso, desde que a companhia atual me demita – sem justa causa, obviamente – para que eu não saia perdendo financeiramente. Cheguei a sondar um conhecido no departamento de recursos humanos sobre isso, mas, segundo ele, não é possível fazer acordos dessa natureza. De uns dias para cá, comecei então a fazer somente o básico, o mínimo esperado e praticamente trabalho no “piloto automático”. Não me importo mais em parecer empenhado, em ajudar a equipe nem em fazer qualquer tipo de esforço extra. Devo levar ao limite essa situação até ser dispensado? Como posso resolver isso?

Analista de TI, 33 anos

Resposta:

Não faz sentido você adotar esse tipo de postura e conduta e passar a fazer somente o básico, sem se empenhar e ajudar os outros membros da equipe, apenas por não estar satisfeito com seu emprego.

Agindo dessa forma você vai conseguir, apenas, criar uma imagem negativa e vai, sem dúvida, acabar se prejudicando profissionalmente. Além do mais, isso também não é justo com seus colegas de trabalho.

Não vale a pena ser demitido desse jeito, por esse motivo. O mundo profissional é muito “pequeno”. Todo mundo sabe de tudo, sobretudo hoje em dia, com as redes sociais espalhando comentários e julgamentos sobre tudo e sobre todos. Seus possíveis futuros contratantes vão rapidamente saber dessa sua forma de ser e proceder e isso vai pesar negativamente em futuros processos de avaliação e contratação. Não vale a pena correr esse risco.

A melhor solução para resolver essa situação que você vive é descobrir as causas dessa sua perda de entusiasmo e motivação. Parecem ser mais amplas e profundas do que apenas falta de perspectivas profissionais nessa empresa específica. Você cita que não mais sente prazer em conviver com as pessoas, seus colegas de trabalho e chefes. Demonstra cansaço dos clientes, da rotina, enfim, de tudo. Isso revela causas e consequências mais profundas.

Procure avaliar como você tem se sentido e comportado fora do trabalho. Seguramente sua vida profissional, a pessoal e a familiar se cruzam e se influenciam. É pouco provável que uma delas vá muito bem e a outra muito mal. Talvez, apenas trocar de emprego não vá resolver essa sua falta de entusiasmo e motivação.

Pode ser que no curto prazo essa troca possa proporcionar uma “injeção de ânimo”, mas, com o passar do tempo, as causas profundas podem ressurgir. Busque apoio externo. Procure um conselheiro, alguém que possa ajudar a fazer uma avaliação mais ampla não só da sua evolução profissional mas, sobretudo, dos aspectos pessoais e individuais.

Antes de sair buscando novos desafios, tente fazer um balanço de suas competências, suas forças, seus sonhos e desejos. Para isso, você deve rever tudo que já realizou e em quais condições realizou. Isso vai mostrar o que, em condições similares, você será capaz de fazer, usando seus conhecimentos, características e qualidades pessoais.

Tente tambem recuperar o que lhe dá prazer, o que provoca entusiasmo, o que lhe “enche de energia”. Vá além do profissional. Busque na vida pessoal e na acadêmica. O que você gosta de fazer, o que lhe provoca paixão no trabalho e na vida pessoal? Quais são seus hobbies, o que você faz no seu tempo livre?

Com base nisso tudo, procure construir sua oferta para o mercado de trabalho, seu projeto profissional e seu projeto de vida. Felicidade e sucesso é poder fazer o que mais se gosta de fazer, sendo pago por isso.

Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor

Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:

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Fonte: Gilberto Guimarães/ Valor Econômico