Os casos de dengue confirmados na cidade de São Paulo sofreram redução de 81% na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período de 2015. O pico da epidemia, em meados de janeiro, já ficou pra trás, e a prefeitura até fechou as duas tendas que reforçavam o atendimento aos infectados.
Para o secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, isso é resultado do que ele chama de estratégia inédita para o combate ao mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. Mas, segundo especialistas, foi a natureza que deu uma grande ajuda para essa brusca queda.
“A dinâmica natural da doença é muito mais responsável por essa diminuição do que qualquer ação [das esferas governamentais]”, afirma Maurício Nogueira, virologista da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
No caso paulistano, a prefeitura visitou milhares de imóveis desde o fim do ano passado e aplicou larvicida em pontos previamente mapeados e considerados estratégicos pelos técnicos, como grandes terrenos baldios ou áreas abandonadas. “As ações de todas as esferas do governo são sempre positivas, porém de baixo impacto”, completa Nogueira.
Para o especialista, a circulação do vírus da dengue depende de três parâmetros: população suscetível, presença do mosquito no ambiente e a existência prévia do vírus em determinada região.
Quando um novo tipo da doença passa a circular entre uma população, o que ocorre após alguma mutação, as pessoas vão estar suscetíveis e, segundo Nogueira, “pouco pode ser feito pela autoridade” para frear a doença.
QUEDA DA DENGUE
E, após uma grande epidemia por um mesmo tipo de vírus, como ocorreu no ano passado, “o número de casos vai baixar naturalmente” nos meses subsequentes.
Sem descartar a importância das várias medidas feitas pela Prefeitura de SP, Paolo Zanotto, pesquisador do Departamento de Microbiologia da USP, também joga o foco da solução para o clima.
Segundo ele, chuvas muito intensas, como as que ocorreram nos primeiros dois meses do ano, associadas a uma redução das temperaturas médias em alguns casos, acabam interferindo no ciclo de vida do mosquito.
Estudos feitos por outros pesquisadores mostram que tempestades muito recorrentes acabam “lavando” e destruindo os criadouros do mosquito, diminuindo, portanto, a circulação deles.
A tese do secretário de Fernando Haddad (PT) de que a queda nos casos de dengue ocorreu pela ação dos técnicos, que além dos pontos estratégicos, visitaram 782.627 imóveis e destruíram nestes locais 7.148 criadouros com larvas, é corroborada por outros especialistas no assunto.
“As ações de controle do Aedes aegypti neste ano estão mais intensas e eficazes”, diz Paulo Urbinatti, epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Quando a vigilância é realizada com certo rigor e frequência, é possível controlar a densidade da população de mosquitos adultos e reduzir os casos.” A prefeitura também dá crédito à população, que colaborou na destruição dos focos do mosquito nas casas.
Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti
ZIKA E CHIKUNGUNYA
Ao contrário do que ocorreu com a dengue, as notificações de infecções pelos vírus da zika e da febre chikungunya aumentaram no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, mostram os dados oficiais.
No caso da zika, considerada uma das possíveis causas dos casos de microcefalia em bebês, a capital teve, em 2016, 21 casos confirmados da doença. Outros 141 estão ainda sendo investigados. No ano passado, foram quatro casos positivos.
Além disso, em 2016 foram registrados dois casos de zika contraídos na capital paulista, contra nenhum em 2015. No caso do chikungunya, São Paulo teve, até agora, 11 casos de contaminação dentro do próprio município neste ano, contra nenhum em 2015.
SUBNOTIFICAÇÃO
Por trás dos números existe outro problema, segundo especialistas. “Muitos casos contabilizados como dengue são na verdade zika”, afirma o virologista Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP).
Em geral, diz o pesquisador, só são feitos testes para a doença solicitada. “Se a hipótese é dengue, o teste feito é esse. Se for zika, testa-se apenas zika”. Ou seja, muitos casos negativos para uma doença podem ser positivos para outra, mas isso acaba não entrando nos registros oficiais das áreas de saúde dos municípios.
Fonte: Folha de São Paulo