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Consultorias que recrutam para o alto escalão das empresas estão trabalhando, neste ano, menos posições do que em 2013 e 2014. Mas, se por um lado diminuiu o número de vagas abertas para cargos de presidentes, vice­-presidentes e diretores, aumentou a senioridade dos executivos buscados pelas companhias.“O ambiente ficou mais complexo, econômica e politicamente, e os perfis demandados pelas empresas mudaram”, afirma Jacques Sarfatti, country manager da consultoria de recrutamento Russell Reynolds.

Na Fesa, que também recruta para o topo da hierarquia corporativa, a quantidade de posições trabalhadas caiu 10% neste ano em relação a 2014, mas os valores pagos aos executivos contratados estão maiores. “Os clientes preferem profissionais mais seniores, com condição de prover as melhores respostas para o momento crítico do país”, diz Denys Monteiro, que deixou o cargo de CEO da Fesa no início da semana. Segundo ele, neste momento de incerteza, nenhuma troca de cadeiras acontece sem aumento de 20% a 30% na remuneração total do executivo. “As empresas precisam de líderes fortes e de reversão de resultados. Para atrair os melhores, acabam aumentando os salários pagos a eles”, completa Sarfatti, da Russell Reynolds.

Na Dasein Executive Search, 2015 está sendo parecido com 2014, mas longe do bom ano que foi 2013 para a consultoria. Quando compara o primeiro semestre de 2015 com o mesmo período de dois anos atrás, Adriana Prates, presidente da Dasein, diz que vê queda de 25% no número de posições trabalhadas. Já no segundo semestre, na mesma comparação, a queda é de 10%. “Minha expectativa é que 2016 se iguale a 2013″, diz ela otimista.

Diretor da unidade de negócios varejo da fabricante de queijos Polenghi, o francês Hugues Godefroy, no Brasil desde 1998, assumiu o cargo em junho com o desafio de promover uma gestão de mudança na área e introduzir novas práticas, que tragam melhores resultados para a companhia. “O grande desafio é construir uma agenda de mudanças e discuti­-la dentro do tempo mais adequado”, diz. Segundo o executivo, essa é uma equação que precisa ser levada em conta. “Não se pode ir muito rápido, nem demorar mais que o necessário. O equilíbrio vem com a experiência.”

Antes de entrar na Polenghi, Godefroy era diretor comercial e de marketing da fabricante de pães Wickbold. Ao longo de sua carreira, diz ter executado um papel forte de agente de mudança nas empresas pelas quais passou, o que lhe deu créditos para o atual cargo. “Acho que hoje o desafio é igual para quase todas as empresas no Brasil. Temos que encontrar a melhor forma de passar por esse momento de dificuldade”, afirma.

Adriana Cambiaghi, líder da divisão de recrutamento para o alto escalão da Robert Half, criada no começo deste ano, vê alguns perfis sendo bastante demandados pelo mercado. Ela cita os cargos de liderança de unidades e gerência geral ­ ocupados por pessoas que vão guiar e estruturar as novas estratégias da companhia para enfrentar o atual momento do país ­, posições comerciais que ajudem a atrair mais clientes e diretores financeiros que olhem com cuidado para a redução de custos.

“As responsabilidades dos executivos vão mudando de acordo com o contexto econômico”, diz. O que se houve muito hoje, segundo ela, é que não adianta planejamento se não houver uma boa execução. Além do ‘background’, os executivos precisam ter capacidade de influência e de colocar em prática suas ideias.

Sarfatti, da Russell Reynolds, acrescenta que, se antes os presidentes de empresas trabalhavam em um cenário de expansão de mercado em uma economia pujante, hoje veem um mercado superofertado e competição mais acirrada. “O consumo vem se deteriorando cada vez mais. As empresas enfrentam problemas de fluxo de caixa e querem renegociar preços constantemente. Há toda uma cadeia que demanda CEOs com perfis diferentes”, diz.

Quem troca seus executivos do alto escalão atualmente tem temas importantes a resolver. E, nesses casos, a preferência é por profissionais altamente capacitados. “São gestores experientes, que já viveram outras crises, passaram por variações cambiais, viram aumentos de custos, incertezas e problemas logísticos”, diz Monteiro, ex­-Fesa. “Cabelos brancos estão valendo mais hoje e o salário continua aumentando para os melhores.”

Luiz Claudio Vieira Costa passou por um processo de seleção de seis meses e assumiu recentemente a presidência da empresa alemã Elantas no Brasil.Antes, ele era gerente geral para América Latina da divisão de repintura automotiva da PPG Industries. O principal desafio do executivo na nova função é entender e explicar para a matriz o que acontece no país. “Estamos na contramão das demais regiões do mundo e a falta de perspectiva em relação ao futuro é um dos principais desafios”, diz ele, que cita ainda a necessidade de elaborar um plano agressivo de crescimento para a Elantas na América Latina, contemplando inclusive potenciais aquisições.

Adriana, da Dasein, diz que vem trabalhando muitos cargos como o de Costa: executivos para liderar operações de companhias estrangeiras no Brasil. São profissionais que se reportam diretamente ao CEO global, que entendem o contexto local e que sabem como fazer negócios no país. “Percebo que as empresas estão com receio de deixar um estrangeiro no comando, algo que fizeram por muito tempo, por conta da complexidade do cenário atual”, diz a consultora.

Para Patrick Schauff o novo desafio profissional estava no México, onde, desde maio, é diretor geral do grupo Alucaps, o maior fabricante de tampas plásticas e metálicas do país. Antes da mudança, Schauff era diretor na área de operações do Walmart Brasil. Agora, tem a missão de triplicar os negócios do grupo mexicano até 2020. Isso inclui fortalecer a relação com os clientes, conquistar novos mercados, melhorar a eficiência operacional e preparar as equipes para a nova realidade.

“Fui atraído por vários aspectos”, diz Schauff, que cita principalmente o desafio a ser enfrentado, o potencial de crescimento da empresa e o trabalho estratégico que terá pela frente. Também pesaram questões pessoais na mudança, como a qualidade de vida familiar. “Estamos morando em uma cidade de 600 mil habitantes, com excelentes escolas e infraestrutura a 70 quilmetros da capital mexicana. além disso, fui atraído pela possibilidade de voltar para o México, onde tivemos momentos felizes em família por dois anos, quando fui vice­-presidente da Nestlé no país.”

Adriana, da Dasein, diz ver com frequência movimentos similares. “Muitos executivos estão indo para fora do Brasil, contratados por empresas que têm alguma ligação com o país”, diz ela. No caso de Schauff, o fato de ele ser brasileiro e conhecer o cenário nacional pesaram na escolha do executivo, já que o grupo tem planos de expandir seus negócios no Brasil.

A ampla experiência do executivo, com passagens por multinacionais no mercado de alimentos e bebidas, foi essencial no processo de recrutamento.
Além disso, Schauff cita seu perfil empreendedor, a capacidade de trabalhar sob pressão e de levar a equipe a outro nível de gestão, com planejamento estratégico de médio e longo prazo, execução de curto prazo e comunicação aberta.

Após 17 anos na multinacional de bens de consumo Procter & Gamble (P&G), Gabriela Onofre aceitou um novo desafio profissional na concorrente Johnson & Johnson. Antes diretora de marketing e comunicação da P&G no Brasil, desde agosto ela é diretora global da marca Sempre Livre e das demais marcas femininas da companhia na América Latina. “A P&G foi uma escola para mim, mas nunca tive a possibilidade de fazer uma gestão global de marca, que no caso da empresa é centralizada nos Estados Unidos”, diz. “Esta oportunidade é uma maneira de eu me desafiar, continuar aprendendo e conhecer novas culturas”, ressalta.

No novo cargo, a executiva tem a missão de desenvolver a marca Sempre Livre globalmente, definindo estratégia, ‘pipeline’ de inovação e comunicação. “Nosso objetivo é fazer com que o produto continue relevante para o público­-alvo e ganhe mercado”, diz. Além disso, está entre as atribuições de Gabriela fortalecer o negócio de cuidados femininos na América Latina. “Queremos consolidar nossa posição de líderes na região”, afirma.

Fonte: Por Adriana Fonseca | Para o Valor, de São Paulo