Sindhosba

A crise da política não se restringe ao universo da Esplanada. Vai além. Muito além. Atinge setores essenciais à vida das pessoas. É o caso da saúde. O setor, é verdade, vem sofrendo deteriorações progressivas em todas as unidades da federação. O ritmo, porém, se acelera, o quadro se agrava e as respostas tardam. Pior: faltam projetos aptos a acenar com soluções a curto, médio ou longo prazo.

Tornaram-se banais cenas que antes constrangiam e indignavam os cidadãos. Longas filas, pacientes em macas nos corredores, carência de profissionais, falta de seringas, algodão, gaze, medicamentos essenciais como analgésicos e antibióticos. As farmácias de alto custo não têm estoque para atender a demanda, o que retarda ou interrompe o tratamento.

Em várias capitais e cidades de porte médio, pacientes internados em unidades da rede pública são obrigados a levar lençóis de casa, o que agrava o risco de contaminação. O perigo se amplia quando lavados no ambiente doméstico sem os cuidados necessários. Já houve até registro de infestação de pulgas em dependências que deveriam primar pela higiene. Não surpreendem hospitais sem médicos e a peregrinação de enfermos em busca de ajuda.

A calamidade se observa em três aspectos. Um: a estrutura física. Sem manutenção preventiva ou corretiva, é comum em várias partes do país a constatação de que os prédios apresentam instalações elétricas, sanitárias e hidráulicas precárias. Outro: falta de material. Equipamentos médicos, mobília, laboratórios e remédios básicos não estão disponíveis. O último, mas não menos importante: a carência de recursos humanos. Conjuga-se, no caso, o verbo faltar: faltam concursos públicos, faltam condições de trabalho, falta segurança.

Ora, a Constituição de 1988 diz que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Mas é letra morta. A realidade prova que há longo caminho a percorrer para transformar intenção em fato. Ele passa, necessariamente, pela gestão. Administração hospitalar é especialização ministrada em universidades. Não se admite, em área tão complexa e sofisticada, a indicação política — moeda de troca para obter apoio deste ou daquele partido e porta aberta para a corrupção.

Passa, também, pela mudança de paradigma. Em vez de tratar a doença, o setor deve investir na manutenção da saúde. Impõe-se adotar o modelo horizontal, com centros de saúde e programas eficazes de atendimento à família. Hospital deve ser a última parada do paciente, não a primeira como ocorre hoje — fruto do descaso, da insensatez, do desprezo à ciência e ao profissionalismo.

Nada disso, contudo, pode ser usado para justificar aumento da carga tributária, como a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), tributo que, um dia, foi instituído para financiar a saúde e logo distorcido em sua finalidade. O que cabe é direcionar recursos já existentes para aquilo que é ou deveria ser prioridade absoluta da administração pública, além é claro, de significativa melhoria na qualidade da gestão e rigoroso controle para evitar desvios.

Fonte: O Estado de Minas