Sindhosba

É exatamente o que não espera a dona de casa, Clarice Anunciação da Hora. Desde o começo da manhã de ontem, ela estava na porta do Hospital Geral do Estado (HGE), aguardando uma vaga na UTI para o irmão, Sebastião, que tomou dois tiros, um na cabeça e outro no braço, no último sábado, quando voltava para casa, em Camaçarí, na região Metropolitana.

“Ele está em cima de uma maca, entubado, no Hospital Geral de lá, só recebendo medicação. Estou aqui desesperada aguardando a regulação para conseguir uma vaga em qualquer UTI aqui de Salvador, já que, se ele ficar por lá, acho que não vai sobreviver. Também estou aguardando para que ele faça um exame de tomografia. Eu estou disposta a tudo para ajudar o meu irmão”, contou ela, aos prantos.

O economista Antônio dos Santos passou por situação semelhante na semana passada, quando precisou levar a mãe, que estava passando mal, a uma emergência de um hospital particular, também na capital. “É um verdadeiro absurdo você ter que ficar esperando cerca de seis, sete horas, até ser atendido. Além do acúmulo de pessoas, o que chama bastante a atenção é a falta de higiene desses espaços”, reclamou.

De acordo com ele, apesar de os políticos definirem a saúde como prioridade, pouco tem sido feito para melhorar a realidade. Além disso, Santos destaca que o fechamento do Hospital Espanhol, há quase um ano, só piorou a situação. “E o que parece é que não há uma solução a curto prazo para isso. Fala-se muito de saúde, mas são apenas promessas”, comentou. Sem atividades desde o ano passado, o Espanhol, que fica na Barra, tinha cerca de 60 leitos de UTI adulto e 12 de UTI Neo-Natal.

Falta de investimento 

Para o Presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Sindhosba), Raimundo Correia, a atual situação de caos com relação à falta de leitos de UTI, se deve aos baixos investimentos na saúde. “Salvador, por exemplo, hoje tem uma carência de leitos por uma razão: há muito tempo que a rede hospitalar na Bahia não cresce. Isso acontece por que basicamente os hospitais grandes do estado são filantrópicos, a rede privada é pequena e como não há uma remuneração específica, um retorno financeiro que justifique o investimento, o capital privado não tem investido em hospital”, falou.

Atualmente, de acordo com a Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AHSEB), a capital baiana tem cerca de 4.500 leitos hospitalares, sendo 469 UTIs. Esses números são das instituições privadas vinculadas a Associação. Segundo o presidente do órgão, Ricardo Costa, há um déficit de 20% no número de leitos em todo o estado.

“O que está faltando é um incentivo por parte do governo em ajudar os hospitais. Além disso, vivemos um problema que é um tripé: a falta de remuneração adequada pelo plano de saúde, a falta de incentivos fiscais e a falta de linhas de crédito para a saúde, com juros baixos e carência, por exemplo. O governo precisa acordar e ajudar um segmento que é de alta complexidade e com mão de obra qualificada.”, disse.

Apesar da realidade atual, para Correia, a situação não deve mudar por enquanto. “É uma crise que deve se agravar. Para se ter uma ideia, qual foi o hospital no estado que inaugurou nos últimos, além do Hospital da Bahia? Há 30 anos que a cidade só cresce e a rede hospitalar permanece estática. O resultado é esse que nós estamos vendo atualmente”, relatou.

Novos leitos

Através de nota, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), reconheceu que há uma falta de leitos de UTI na Bahia, mas ressaltou que a situação acontece em todo o país, como também nas unidades privadas de saúde. Ao todo, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Sistema único de Saúde (SUS), a Bahia tem cerca de 1.270 leitos de UTI e de Unidade Semi-Intensiva na rede estadual.

No entanto, a secretaria informou que só no primeiro semestre deste ano já foram abertos 265 leitos que estavam inativos, tanto em Salvador, como no interior do estado. Destes, 32 são Unidades de Terapia Intensiva. Até o final do ano, ainda segundo o comunicado, serão implantados mais 20 leitos de UTI no Hospital de Paulo Afonso, no norte do estado. O governo também já anunciou a construção de hospitais em Camaçarí, Seabra, Ilhéus e em Feira de Santana.

UTI neonatal

A primeira UTI Neonatal Cirúrgica da Bahia foi inaugurada com dez leitos, no Hospital Martagão Gesteira, em Salvador, nesta terça-feira (16), pelo governador Rui Costa. Durante a inauguração, o governador observou que os recém-nascidos precisam de atendimento mais rápido, para garantir a sua sobrevivência.

“Nossa meta é zerar a fila de espera de UTI infantil e de cirurgias. Teremos UTI também no hospital de Feira de Santana, onde o Martagão Gesteira está assumindo a administração do Hospital da Criança. A unidade do Roberto Santos também será inaugurada nos próximos dias”.

Os dez leitos inaugurados hoje vão beneficiar mensalmente cerca de 60 recém-nascidos com necessidades cirúrgicas, especialmente nas áreas de neurocirurgia e cirurgia cardíaca. As obras para a implantação da UTI duraram cerca de sete meses e o investimento, incluindo mobiliário e equipamentos, foi de cerca de R$ 2,56 milhões.

O Martagão Gesteira é referência em pediatria e realiza, mensalmente, cerca de cinco mil atendimentos ambulatoriais e 700 internações. Para garantir o funcionamento destes dez leitos, a Secretaria da Saúde da Bahia irá custear integralmente a sua manutenção, com R$ 6,6 milhões por ano. Cerca de 62 colaboradores entre médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais devem trabalhar diretamente na unidade.

Fonte: Tribuna da Bahia