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A evolução da raça humana trouxe vantagens mas também desafios. O neurocientista Robert Sapolsky, da Universidade de Stanford, diz que evoluímos a ponto de produzir doenças em nós mesmos. Conhecido como o mal do século, o estresse é hoje o principal fator de risco para a saúde do homem moderno. Um estudo da Universidade de Harvard mostra que 80% de todas as consultas médicas realizadas no mundo, sejam em ambulatórios, consultórios ou hospitais, têm relação com o estresse diário a que somos submetidos. Identificamos em mais de 100 mil check-ups que 70% dos pacientes das nossas unidades de medicina preventiva convivem com altos índices desse problema.

O momento no Brasil não poderia ser mais fértil para o estresse, vetor para o estilo de vida inadequado e pouco saudável. Caos econômico, instabilidade política, aumento das taxas de desemprego e uma profunda crise na área da Saúde. Essas são apenas algumas das causas que impulsionam o aumento desse mal a índices alarmantes. Nossos estudos mostram, por exemplo, que no último ano houve aumento de quase 30% de depressão em relação aos 12 meses anteriores. A ansiedade passou a atingir 32% dos clientes contra 20% do ano anterior e a insônia hoje é relatada por 25% de homens e mulheres examinados.

Essas condições negativas impactam diretamente a saúde das pessoas. Algumas doenças têm aparecido cada vez mais precocemente. As cirurgias de angioplastia e revascularização do miocárdio, antes mais comuns a partir dos 50 anos, hoje são feitas em pacientes em torno de 35 anos. Entre as mulheres, o câncer de mama incidia em pacientes com mais de 60 anos, após a menopausa. Hoje, não raramente, diagnosticamos a partir dos 35 anos. Há explicação e há prevenção. Em níveis elevados, o estresse estimula a produção de dois hormônios no corpo: o cortisol e a adrenalina. Esse aumento ao longo dos anos favorece o surgimento de doenças cardíacas, diabetes, hipertensão e acidente vascular cerebral e queda da imunidade.

A partir destes dados, o poder público, em vez de gastar muito tratando das doenças, deveria investir na prevenção. Não há, porém, uma política sistemática por parte do governo federal para evitar que a doença tome conta dos indivíduos, quando ela pode ser evitada. As autoridades preferem gastar mais e cuidar menos da saúde.

O estresse custa às empresas americanas, segundo a OIT, US$ 200 bilhões ao ano. No Brasil, a estimativa é que os custos decorrentes do estresse cheguem a 3,5% do PIB. A saída para lidar com o problema é o poder público encará-lo de frente, voltando-se para a prevenção.

Segundo estudo publicado na revista “Archives of Internal Medicine”, da Associação Médica Americana, pode-se reduzir em até 80% o risco de desenvolver males crônicos com a adoção de quatro hábitos em conjunto: não fumar, manter o peso ideal, fazer exercícios regulares e dormir um sono reparador. A medicina preventiva é hoje ferramenta fundamental para a busca da longevidade com autonomia, aponta e desenvolve programas para a gestão dos fatores de risco que agridem a saúde do homem moderno.

Fonte: O Globo