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Segundo a Organização Mundial da Saúde, o câncer de próstata é o tumor que mais mata homens no Brasil, com mais de 17 mil fatalidades anualmente. As metástases precedem a morte pelo câncer de próstata e em 90% dos casos envolvem os ossos.

Não é raro ver nos consultórios os pacientes em cadeiras de rodas devido a dores intensas e até fraturas que requerem cirurgias ortopédicas.

Eis que novembro está aí e com ele, a campanha Novembro Azul. Sociedades médicas profissionais, mídia e instituições de saúde mobilizam-se para informar os homens sobre diagnóstico precoce, numa analogia a campanha do Outubro Rosa, mesmo que com menos evidências científicas que suportam o exame preventivo para câncer de próstata em relação ao de mama.

De qualquer jeito, as campanhas incentivam: faça seu PSA e toque retal, numa tentativa de antagonizar o estereótipo machista do homem brasileiro.

Por se tratar de um mês de conscientização, temos de alertar os pacientes com câncer de próstata e seus familiares para um fato vergonhoso que ocorre no nosso país.

Em julho de 2015, a Anvisa aprovou uma medicação que pode diminuir a mortalidade do câncer de próstata metastático para os ossos, mas nossos pacientes ainda não têm acesso a essa medicação.

O cloreto de rádio (223 Ra) é um radiofármaco injetado na veia do paciente que aplica radiação para matar células malignas nos ossos.

Estudos clínicos internacionais realizados em vários centros de pesquisa em câncer, incluindo pacientes brasileiros, mostraram redução da chance de morte em 30% e com poucas toxicidades. Esta medicação já está disponível para pacientes norte-americanos e europeus desde 2013.

Um dos motivos para a demora na disponibilização desta medicação no Brasil está na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

A CMED, criada há 13 anos por um decreto do Poder Executivo, é um órgão interministerial responsável por regular e estabelecer critérios para a definição e o ajuste de preços de novos medicamentos.

Uma vez que um medicamento novo recebe o registro pela Anvisa, a CMED deveria estabelecer o preço para o mercado em questão de poucos meses. Infelizmente, a decisão da CMED para o cloreto de rádio foi publicada somente agora, em setembro de 2016, ou seja, com uma demora de 15 meses.

Mesmo assim, por motivos nada claros, a medicação ainda não está disponível e não há previsão de quando estará.

Verdade seja dita: desde a criação da CMED, vários medicamentos que melhoram a sobrevida dos pacientes com câncer de próstata foram disponibilizados, como quimioterapias (docetaxel e cabazitaxel) e agentes hormonais (abiraterona e enzalutamida). Contudo, é imperativo que novas medicações sejam acessíveis para beneficiar o tratamento destes pacientes.

Com 17 mil mortes anuais por câncer de próstata, a realidade brasileira que atrasa o acesso às medicações é assustadora. Nestes 15 meses, mais de 6.000 pacientes foram privados de um tratamento que poderia reduzir a mortalidade.

Quantas mais vidas perderemos por esse motivo? Está na hora de nos mobilizarmos. Está na hora de discutirmos como facilitar o acesso a medicações para os pacientes oncológicos de nosso país.

Fonte: Folha de São Paulo