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Diante da perspectiva de debandada de 1,5 milhão de usuários ao fim deste ano, os planos de saúde, que outrora rendiam fortunas a muitos empresários e, de certa forma, serviam para aliviar a pressão sobre os Sistema Único de Saúde (SUS), começam a sentir pesadamente os efeitos da crise. Nos últimos anos, o número de usuários de planos apresentou leve queda.

A partir do fim de 2014, esse ritmo se acentuou fortemente e entrou em queda livre no início de 2015. Ao todo, somando-se os anos de 2015 e 2016, a previsão é de que 2,5 milhões de clientes abandonem os planos. Para esse nicho da economia que lida com um mercado de saúde, as previsões são as piores possíveis.

Para o governo — envolto em uma das maiores crises já vividas pelo país —, a notícia é ainda pior. Sem condições de oferecer atendimento de saúde, digamos, minimamente, decentes, a expectativa do governo é de que haja crescimento sem precedentes de retorno de usuários aos serviços públicos, o que aumentará a presssão e a desorganização de um setor, há muitos anos, em estado caótico.

A situação dos planos de saúde se insere em uma imensa engrenagem que age e reage em cadeia e de forma sincronizada. O fechamento de postos de trabalho — fala-se hoje em mais de 14 milhões de desempregados — tem reflexos diretos na queda dos contratos de planos.

Sem dinheiro para bancar os altos custos desses contratos — muitas vezes feito de forma coletiva pelas empresas —, resta ao trabalhador abandonar os planos privados. Por sua vez, a crise empurra os planos para o ciclo perpétuo de reajustes e correções de tabela. Quanto mais as mensalidades dos planos são reajustadas, mais gente deixa de pagar e abandona o sistema privado.

Ao lado da questão previdenciária, os problemas nas áreas de saúde e educação são os que mais afligem os brasileiros. Da montanha de problemas que se anuncia para o governo interino de Michel Temer, a questão da saúde, talvez, seja a mais premente. Aquelas famílias que ainda podem têm optado por fazer uma pequena poupança mensal para cobrir gastos de última hora com saúde. O ideal, num país desigual e com uma das maiores cargas tributárias do planeta, como o nosso, seria que os serviços de saúde e educação fossem totalmente universalizados e de boa qualidade.

Para muitos especialistas no setor, a última década nos afastou ainda mais desse ideal, a ponto de se acreditar quem, nos próximos 10 anos, serão necessários esforço e trabalho gigantescos apenas para alcançarmos o patamar razoável. A fórmula para garantir os serviços de planos de saúde particulares será imensa. São quase 50 milhões de usuários ou 25% da população brasileira. Quem sabe, com um novo governo, as agências reguladoras voltem a operar nos moldes a que foram idealizadas e apontem um caminho para mais essa crise.

Fonte: Correio Braziliense