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Consultor em gestão empresarial e auditor contábil em hospitais do país Jaime Gil Bernardes defende a necessidade de equilíbrio das contas

Leonardo gorges e Ângela Bastos

Os valores pagos pelo SUS são baixos e equivalem a uma remuneração de cerca de 60% dos custo do procedimento. Por isso também, campanhas e reivindicações dos hospitais filantrópicos são válidas e devem ser ouvidas pelas autoridades. Por outro lado há uma questão: por que algumas dessas instituições são financeiramente equilibradas e outros estão em situação caótica, sendo que em ambos os casos o SUS é o mesmo? A observação é de Jaime Gil Bernardes, consultor de gestão empresarial, pós-graduado em Gestão em Saúde e mestre em Administração e auditor contábil em hospitais do país.

Nesta entrevista, ele defende a necessidade pela busca do equilíbrio das contas, o que exige análise do que é feito do dinheiro e de onde vem as outras fontes de renda. Para o especialista, duas palavras definem a situação: estratégia e processos.

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O que o senhor pensa do SUS?
O modelo de pagamento do SUS é um dos mais abrangentes e sofisticados que existem. Pior do que os valores baixos dos hospitais, é a situação da remuneração dos médicos. Eles desistem, não querem perder tempo com atendimento via SUS e faltam profissionais. Isso levou à contratação de estrangeiros como para o programa Mais Médicos.

Qual a sua análise sobre a administração dos hospitais filantrópicos atualmente?
Nem todos os hospitais colocam profissionais à frente da administração. Muitos desses cargos são ocupados por médicas, funcionários públicos aposentados e até parentes ou amigos dos responsáveis pelas instituições. Há também organizações que contam com um provedor, um conselho ou mesmo um presidente que, de forma geral, são filantropos e não remunerados.

Na sua opinião, onde está o problema do caixa de um hospital?
Dados apontam que de 30 a 40% do que se consome em um hospital é desperdício. Mas é preciso diferenciar desperdício de custos operacionais. Os custos são os gastos necessários para atividade e compreendem os meios necessários e suficientes para o atendimento de um paciente. Desperdício é a parte desses gastos que não serve para nada e precisa ser eliminado

Como fazer isso?
É necessário um mapeamento da cadeia de valor, onde cada processo seja analisado detalhadamente e se toma a decisão de ficar ou eliminar. Desperdício em materiais e medicamentos é apenas uma fração.

Quais são as outras frações?
Transporte desnecessário (movimentação desnecessária dos pacientes ao longo do processo por dentro do hospital); espera (funcionário parado ou um paciente sem receber atendimento); informações (excesso ou falta de informações); movimentação (excesso de movimentação desnecessária dos funcionários em busca de papéis ou materiais); estruturas em excesso (ter mais do que o necessário ou fazer algo que ninguém ainda quer); processos inadequados (fazer mais do que o necessário); e erros e correções (atividades que não são realizadas de forma correta na primeira vez).

Por serem filantrópicos, o senhor não acha que a saúde deveria estar em primeiro lugar?
Temos que encarar um hospital filantrópico como um negócio e não como filantropia. Saúde não tem preço, mas tem custo. É necessário também que tenhamos gestores competentes, experimentados, que não permitam o nepotismo e o cabide de empregos.

Mas há também problema de gestão da esfera governamental?
Antes de um gestor municipal, estadual ou mesmo federal pensar em tentar desestimular um hospital filantrópico, seja pagando pouco, seja atrasando os pagamentos, tem que ter consciência que se trata de uma organização não governamental (ONG) que está terceirizando a responsabilidade governamental e com custo baixo. O prefeito tem que agradecer por ter um hospital filantrópico em sua cidade, pois se fosse construir ou administrar um hospital seria muito mais caro.

Diante do quadro, existe saída?
Penso que os hospitais devam olhar para a estratégia organizacional e processos para reduzir custos.

Fonte: A Notícia – SC